O Livre Arbítrio de James Arminius
Uma breve nota sobre o entendimento de Jacobs Arminius com respeito ao livre arbítrio do homem.
Samuel Paulo Coutinho
O pensamento de Arminius difere muito do conceito popular sobre o livre arbítrio teológico. A ideia de que o homem é capaz de por si mesmo escolher entre o pecado e a obediência a Deus não corresponde à opinião do teólogo holandês. Jacobs Arminius defendeu o chamado “livre arbítrio evangélico”, que é, negativamente considerado, a negação da capacidade inata de escolher o bem; e, positivamente considerado, a afirmação da necessidade da graça para desejar e realizar qualquer coisa que seja verdadeiramente boa.
Para que fique mais claro, pense no livre arbítrio como uma composição de duas parcelas: (1) “livre arbítrio para o mau” e (2) “livre arbítrio para o bem“. A parcela (1) refere-se à capacidade humana de livremente pecar contra Deus. A parcela (2) refere-se à capacidade de fazer algo definitivamente bom e agradável a Deus.
No entendimento popular, o homem natural possui a capacidade de escolher e realizar tanto aquilo que é bom, quanto o que é mau. Ou seja, o livre arbítrio pode ser compreendido como uma soma das parcelas (1) e (2). Porém, para Jacobs Arminius, o homem caído somente possui a parcela (1), sendo que a (2) foi destruída pelo pecado original e, portanto, precisa de uma ação renovadora direta e da contínua assistência do Espírito para poder desejar e realizar o que é verdadeiramente bom.
Evidências
Arminius rejeitou fortemente a existência do “livre arbítrio para o bem” no homem caído. Para ele, mais do que enfraquecida, esta parcela simplesmente fora extinta do homem natural na queda:
O livre arbítrio do homem para com o verdadeiro bem não está apenas ferido, mutilado, enfermo, distorcido ou enfraquecido; mas está também preso, destruído e perdido; e seus poderes não estão apenas debilitados e inúteis a não ser que sejam assistidos pela graça, mas não há poder algum a não ser aquele que é gerado pela graça divina. [1]
Por outro lado, ele abraçou conscientemente a existência do “livre arbítrio para o mau“. Na mente dele, se o homem não fosse o autor de suas próprias escolhas pecaminosas, mas pelo contrário, fosse predestinado a pecar, Deus se tornaria o autor do pecado e, desta forma, o caráter divino seria fatalmente manchado. Isso levou Arminius a defender irredutivelmente a existência real do livre arbítrio para o que é mau:
Confesso que a mente do homem [animalis] natural e carnal é obscura e perversa, que suas afeições são corruptas e desordenadas, que sua vontade é obstinada e desobediente e que o próprio homem está morto em pecados. E eu acrescento a isto – obtém a minha mais alta aprovação aquele que atribui tanto quanto possível à graça divina, contanto que ele assim defenda a causa da graça, não para infligir injúria sobre a justiça de Deus, e não para retirar o livre-arbítrio para aquilo que é mau. [2]
Por conseguinte, para Arminius, como o homem já não possui capacidade para desejar e realizar o que é bom, ele deve ser previamente liberto por Cristo através do Espírito para somente então ser de fato livre:
Portanto, se “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3:17); e “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:36), segue-se que a nossa vontade não é livre desde a primeira queda. Isto é, não é livre para o bem, a não ser que se torne livre pelo Filho através do Espírito. [3]
Todavia, mesmo o homem participando da regeneração e sendo liberto por Cristo, conforme o teólogo holandês, o “livre arbítrio para o bem” é estéril sem a contínua assistência da graça divina:
A respeito da graça e do livre arbítrio, ensino conforme as Escrituras e o consentimento ortodoxo: o livre arbítrio não tem a capacidade de fazer ou aperfeiçoar qualquer bem espiritual genuíno sem a graça. [4]
Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça divina. [5]
Em suma, Jacobs Arminius ensinou que o homem natural somente deseja e executa o que é mau, enquanto que as escolhas e ações verdadeiramente boas são frutos da graça divina.
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1 Arminius, Works (Disputation 11 – on the will of man and its powers, VII), v.1. Disponível em: < http://www.ccel.org/ccel/arminius/works1.v.xii.html > Acesso em: 26/11/2013.
2 Arminius, Works (Graça e livre arbítrio), v.2. Disponível em: <http://www.arminianismo.com/index.php/categorias/obras/livros/127-james-arminius-as-obras-de-james-arminius-vol2-/172-4-graca-e-livre-arbitrio> Acesso em: 25/11/2013.
3 Arminius, Works (Disputation 11 – on the will of man and its powers, XI), v.1. Disponível em: < http://www.ccel.org/ccel/arminius/works1.v.xii.html > Acesso em: 26/11/2013.
4 Arminius, Works (Graça e livre arbítrio), v.2. Disponível em: <http://www.arminianismo.com/index.php/categorias/obras/livros/127-james-arminius-as-obras-de-james-arminius-vol2-/172-4-graca-e-livre-arbitrio> Acesso em: 25/11/2013.
5 Arminius, Works (Sobre o livre arbítrio do homem), v.1. Disponível em:<http://www.arminianismo.com/index.php/categorias/obras/livros/114-james-arminius-as-obras-de-james-arminius-vol1-/184-3-sobre-o-livre-arbitrio-do-homem>Acesso em: 25/11/2013.
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